A biossegurança na atividade profissional e os benefícios da sua prática

A biossegurança na atividade profissional e os benefícios da sua prática

07/12/2022 - Por: Alliage

Um dos princípios fundamentais da medicina e da odontologia é o princípio da “não maleficência” – primum non nocere – ou seja, primeiro não prejudicar, não causar um dano maior que um problema. Decorrente disso, advém naturalmente o princípio da “beneficência”, que se refere a ação que deve ser feita, ou seja, aquilo que vai beneficiar o outro.

A biossegurança foi pensada nesse cenário por docentes, pesquisadores e estudiosos da área da saúde, que discutiam exatamente isso: ações que minimizassem os riscos da prática médica e odontológica e maximizassem os benefícios de uma intervenção nos pacientes.

Biossegurança
Biossegurança

Joseph Lister, um dos primeiros médicos a sugerir técnicas de assepsia e antissepsia no hospital em que trabalhava (e que recebeu, inclusive, como homenagem o nome do antisséptico bucal “Listerine”) foi alvo de muita zombaria na sua época por acreditar em “germes invisíveis”. Ele foi um dos primeiros a perceber que o simples ato de lavar as mãos previamente aos procedimentos de cesárea, num momento em que não se usavam luvas para o ato cirúrgico, nem se tinha qualquer higiene no ambiente hospitalar, reduziria significativamente o desenvolvimento de infecção pelos pacientes daquele hospital.

Esses foram os primórdios do desenvolvimento da biossegurança. Mal sabiam eles que hoje falaríamos de biossegurança como um dos pilares fundamentais da medicina, da odontologia, da enfermagem, não sendo concebível atender um paciente sem luvas atualmente, ou sem lavar as mãos previamente, tocando em sangue e feridas cruentos, o que antes era feito rotineiramente.

Trazendo para a odontologia, naturalmente nossa boca contém bilhões de tipos e espécies de bactérias, vírus, fungos e outros patógenos. Estar em contato diariamente com inúmeros indivíduos em um mesmo ambiente de trabalho e atuando diretamente na boca, torna imperativo a tomada de medidas para evitar a contaminação do ambiente, da equipe e do paciente.

De nada adiantaria devolver a estética do sorriso, a função mastigatória ou mesmo praticar a odontologia de forma simples, sem pensar na contaminação individual e coletiva que isso traria. É por isso que a biossegurança tem tamanha importância, sendo alvo de estudos frequentes e de desenvolvimento frequente de medidas para favorecer seu propósito: a proteção.

Na modernidade, a biossegurança nada mais é do que uma área de estudo e aplicação das diversas formas de diminuição da contaminação, seja ela por compostos químicos, físicos ou biológicos; do paciente para o ambiente, do ambiente para o paciente, dos profissionais para o paciente e de paciente para paciente. Ela permite que não só os pacientes estejam seguros ao minimizar a contaminação cruzada, como também pessoas de fora do atendimento, como familiares, amigos e equipe, pois reduz também a contaminação indireta.

As medidas de biossegurança consistem desde a disposição racional das instalações do consultório, a fim de promover um fluxo de trabalho eficiente e que diminua ao máximo a contaminação, até o estabelecimento de ações antes, durante e depois dos atendimentos, que objetivam proteger a todos. Dividimos aqui as principais medidas tomadas no ambiente de trabalho como medidas de “antes, durante e depois dos atendimentos”, a fim de tornar o assunto mais didático e palpável, apesar de não ser nosso objetivo aqui esgotá-lo já que ele se estende da disposição e instalação dos equipamentos, até a disposição de janelas e ventilação do local.

Hoje a biossegurança é tão avançada que temos métodos de mapeamento das áreas críticas e não críticas das clínicas, controle dos espaços e da esterilização de instrumentais, métodos para coleta de lixo infectante e perfurocortante, embalagem e armazenamento de instrumentos, tudo com o objetivo de criar um ambiente mais limpo possível e seguro para todos. Dividimos abaixo as principais medidas de biossegurança para os atendimentos odontológicos:

Medidas de biossegurança a serem tomadas antes dos atendimentos 

Todo atendimento deve ser precedido pela limpeza do espaço de trabalho com produto químico desinfetante (contendo em composição álcool 70% ou produtos à base de hipoclorito de sódio). Pisos, objetos, equipamentos, cadeiras, bancadas, refletor, devem ser desinfetados e em seguida realizada a proteção das áreas críticas de contaminação como pegas de mão de equipamentos utilizados, refletor, seringa tríplice, bancada.

Além disso, a equipe deve estar protegida com EPIs adequados (gorro, avental, máscara, óculos de proteção, luvas e sapatos fechados) e os instrumentais garantidamente esterilizados. A confirmação da esterilização dos instrumentos pode ser feita por meio de evidenciadores biológicos ou químicos como fitas, o lixo contaminado e perfurocortante deverá ser separado e identificado por meio de embalagem e sacos próprios.

Medidas de biossegurança a serem tomadas durante os atendimentos 

Antes de qualquer contato com a cavidade oral do paciente, o profissional e equipe devem lavar as mãos com água e sabão antes e após todo contato, mesmo fazendo uso de luvas. Além disso, normalmente o atendimento odontológico promove o espalhamento de aerossóis pelo ambiente.

Dessa forma é ideal que o paciente realize um bochecho com antisséptico bucal antes de iniciar o atendimento, ação que reduz significativamente o contingente bacteriano. Em situações de cirurgia ambulatorial, é recomendado a limpeza da pele da face ao redor da boca a fim de também promover a limpeza da área cirúrgica com clorexidina 2% ou iodo.

Também é recomendado que não fiquem presentes na sala objetos de decoração, papéis e canetas que possam ser contaminados pelos aerossóis. Idealmente esses objetos devem ser encapados por plástico filme que deverá ser removido após o atendimento para evitar a contaminação cruzada.

Não é boa prática sair do atendimento com as luvas tocando superfícies que não foram previamente encapadas, nem cumprimentando pacientes, tocando radiografias, objetos ou pessoas de fora do atendimento com a luva em mãos. Procedimentos cirúrgicos que exijam ao máximo a diminuição da contaminação devem fazer uso de avental, luvas, campos de mesa e fenestrado estéreis e descartáveis.

Durante o atendimento em que se faz uso de material perfurocortante ou mesmo de agulhas, não é recomendado colocar ou remover esse material com as mãos, nem reencapar a agulha, muito menos reaproveitá-los por meio da reesterilização. São materiais de uso único que devem ser descartados com cuidado para evitar a auto perfuração.

Medidas de biossegurança a serem tomadas depois dos atendimentos 

Ao finalizar o atendimento, os instrumentais devem ser separados em recipiente próprio para serem lavados e processados no expurgo e central de esterilização. Campos e outros materiais descartáveis que não forem perfurantes devem ser jogados no lixo contaminado e materiais perfurocortantes descartados em recipiente próprio (o lixo perfurocortante). Além disso, é correto descartar a paramentação e barreira dos equipamentos e trocá-las para atender um novo paciente. Sendo assim, o jaleco de pano ou pijama cirúrgico não substituem o avental descartável, nem vice-versa.

A biossegurança previne a contaminação do cirurgião-dentista, da equipe e dos pacientes por diversas doenças de causas bacterianas, virais e fúngicas. Ela inclusive permite que os tratamentos de doenças infecciosas sejam feitos no consultório sem riscos para outros pacientes, outras famílias e para o profissional envolvido.

A pandemia foi um momento que trouxe à tona a preocupação com a contaminação e biossegurança. Instituiu inclusive em casas e comércios a limpeza de objetos, compras, a lavagem das mãos e o uso do álcool 70%.

De certo, nossa boca e garganta são reservatórios de incontáveis microrganismos, alguns protetores de nossas mucosas, outros patogênicos e virulentos e capazes de causar doenças. Não vai ser possível erradicá-los de nós e do ambiente. A biossegurança na atividade profissional objetiva tornar a intervenção profissional segura e controlada para que possamos trazer saúde aos nossos pacientes, sem causar danos.

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O Autor

Alliage

Alliage é uma empresa detentora de várias marcas no setor da Saúde, que conta com um know-how de mais de 75 anos de experiência.

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